segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Contos de Nanã, vol.1--Nas Areias Do Cairo, pelo Espírito X.

Nota da guia de Nanã: "Caríssimos amigos, irmãs e irmãos na Terra. Em nossa longa caminhada espiritual, habitamos inúmeras moradas do Pai Celestial, guardamos em nossas memórias milenares existências que, no devido curso do tempo, transformam-se em experiência. Para o andante que busca a sabedoria, ela está a fácil alcance, conscientemente ou não. Contudo, quantos não são entre vós que ainda persistem em erros antigos que, como chagas, matutam sem jamais chegar a lugar nenhum? A psicografia, sobre a qual não falarei a respeito pois há muita bibliografia dentre vós que fala com mais proeza do que eu poderia fazê-lo em poucas linhas, é um dos muitos instrumentos de cura que Deus--ou qual nome quereis chamar nosso Criador--deu às criaturas para melhorar a si mesmas e aos outros. A mediunidade nunca é, portanto, unilateralmente. Ela atua frequentemente entre encarnado e desencarnado, encarnado e encarnado, desencarnado e desencarnado, e assim por diante. Sei que me prolongo, mas é necessária esta introdução porque iniciaremos cinco contos ditados por espíritos que vêm falar sobre as chagas que afligem a vós de maneira geral: a insegurança, a soberba, a arrogância, a vaidade e a luxúria. Estes espíritos são tão experientes quanto vós, contudo, foram necessárias muitas encarnações em diferentes tempos e espaço para se aprimorarem. Digo-vos ainda que o progresso moral e o conhecimento jamais se encerram realmente. Que estas palavras possam-vos confortar e inspirar-vos a olhar com mais carinho para as origens das feridas que vos perseguem desde muito tempo. O momento de cura é agora. Que Oxalá os abençoe hoje e sempre."

***

"Louvados companheiros, eu os saúdo em nome de nosso Pai Celestial. A mim, me foi encarregado esta missão de volver os nossos olhos às origens, pois muitas das vezes lá encontramos as pedras sobre as quais andamos--e muitas das vezes tropeçamos--, deixando-nos feridas a sangrar ainda hoje. Não é mais tempo de ignorá-las, mas tomar coragem e enfrentá-las, olhando para dentro de nosso ser e resgatar lá das profundezas de nossa alma aquilo que um dia nos enfraqueceu para que possamos nos fortalecer. 

Diante desse propósito, meu nome não guarda relevância para esta missão. Todavia, para que se o cumpra e tendo em vista a necessidade de assiná-la, também sou conhecido como irmão X. E vim aqui relembrar uma experiência muito antiga. Contudo, devo dizer que a chaga da soberba atravessa o tempo e ainda hoje carrego a impressão de que, mudam-se os dias, os séculos, mas os espíritos permanecem os mesmos. Ah, se nós empregássemos o mínimo de esforços para ser tolerantes uns com os outros, de mente aberta para receber diferentes perspectivas, de coração mais humano para vivenciarmos o ensino de Cristo! Ânimo, porém, eu rogo, pois a espiritualidade amiga segue os amparando.

Bem, há milênios de séculos atrás, quando a humanidade nascia, saindo das cavernas e progredindo cada vez mais, espíritos de outras orbes desciam a Terra para ajudar nesta caminhada na carne. Muitos deles vinham em equipes, cada qual acompanhado de supervisores e outros "times" mais avançados que ficavam "de olho" em tais entidades. Conforme acordado com nosso mestre e modelo guia, o senhor Jesus Cristo, que é o governante desta orbe, estes espíritos vinham expiar por séries de encarnações necessárias depois de terem cometido uma série de crimes contra as leis divinas em seus lugares de origem. A equipe mais conhecida por vós atende pelo nome de "exilados de Capela": são irmãos nossos que viveram incontáveis existências naquela constelação, mas perseveraram no egoísmo, no orgulho, na vaidade, dentre outros "pecados capitais". Não conseguindo se limpar destas máculas, foram deslocados para a Terra (e outros planetas também do sistema solar, desta via láctea) a fim de ajudar este planeta a progredir por meio de uma série de reparações que envolve prova e expiação segundo cada caso espiritual.

E não foi somente um equipe que foi enviada pelo senhor Jesus para a Terra, mas várias das seguintes origens: exilados de Ursa Maior, Três Marias, constelação de Hércules, dentre outros. Mas focarei naquela que aportou no alvorecer da escrita, no Cairo, no berço da civilização egípcia.

Os espíritos que ali encarnaram vieram de outras orbes e, não obstante sua inferioridade moral, eram muito inteligentes. Por conhecerem muito sobre tecnologia, religião e história, por exemplo, importaram muito disso para cá. Destes grupos que se misturaram aos espíritos "naturais" da Terra, houve divisões, pois não se deve pensar que eram todos necessariamente afins. A fim de facilitar a compreensão desta história, darei nomes simples aos protagonistas delas: Isaeu e Isis. Isaeu era um sacerdote que trazia conhecimentos abundantes de magia (a qual nada mais é do que manipulação do fluido cósmico universal em contato com o fluido emitido pelo médium), mas que fez mau uso desse. Quando encarnou na comunidade que crescia às margens do rio Nilo, ele trazia em seu corpo, não obstante as grandes restrições que a matéria impunha em seu espírito um dia mais livre da pesada massa córporea, a intuição da grandiosidade de Deus Uno, o criador que trazia sua essência masculina e feminina em perfeito equílibrio.

Mas sua pequenice o cegava para o Pai Celestial. O que ele entendia quando despertava era que havia uma causa inteligente por trás do rio, que fornecia uma terra para arar, que permitia que a agricultura fosse realizada e que também dava de beber aos necessitados. Conforme aquela comunidade se complexificava e se dividia--os mais orgulhosos não queriam se "misturar" à gente mais simples e quando passaram a usar da força na caça, por exemplo, se colocavam como algo divino: daí surgiriam os reis e imperadores, a classe aristocrática--ele procurou por respostas que, se um dia tivera, lhes fora retirada de seu alcance.

E neste meio tempo em que palácios começaram a ser construídos e se descobria a escrita, Isaeu se inseriu neste grupo e teve uma "luz" do que era o conhecimento e seu potencial. Hieróglifos ajudaram a ser o intermediário do pensamento do espírito exilado na Terra que procurava um meio de expressar o que sentia e sabia e a voz de tal sujeito, embora nem sempre se alinhassem. Mas não vou me aprofundar nestas complexidades. O que quero mostrar aqui é que nosso amigo Isaeu se sentiu tão "iluminado" com esta linguagem que ele acreditou que se tratava de algo divino. Ora, se algo extra humano o alcançou, isso somente indicava que era um escolhido de Deus. 

Essa sensação o envaideceu e o levou a procurar os mistérios que os hieróglifos traziam. Enquanto Isaeu se aprofundava no culto à morte que se desenvolvia pelos seus companheiros de Capela, que traziam a concepção de transmigração da alma ainda bem fresca em sua mente, voltemos nosso olhar para aquela que seria também receptáculo "divino", mas não como queiram pensar.

Ísis, nestes tempos daqui, era uma individualidade que ajudou a implementar o culto ao deus Tot. Para quem desconhece a religião antiga egípcia, Tot era, em resumo, a divindade da sabedoria, portadora do conhecimento, cuja representação física era o corpo humanoide e a cabeça de um balbuíno. Também a ele foi associado a questão da escrita e outras artes, tais como a música.

Pois bem. Ísis era uma camponesa, uma lavradeira que, encarregada de limpar as roupas das senhoras do Cairo no rio Nilo, recebia visões de Tot. Toda a vez que ela se ajoelhava, ali ele aparecia. E dizia:

"Lembre-se de sua missão, Ísis."

O que é curioso notar aqui, caro leitor, é que os egípcios davam um grande valor ao poder dos animais em termos espirituais da mesma forma como os nativos indígenas que compuseram suas tribos na região da américa do Norte como também foi percebido entre os Astecas e Maias em seus cultos politeístas. Poder-se-ia argumentar que são os mesmos espíritos, e não seria uma interpretação equivocada, todavia, falei anteriormente que estas entidades vieram de Capela (que, por si, não era somente um planeta, mas uma constelação) e que compuseram equipes que aportaram em regiões diferentes do orbe terrestre. Mas não posso me prolongar no assunto do xamanismo ou fugiria do escopo da missão que me foi atribuída. Contudo, recomendo a leitura do mesmo.

Como dizia, Tot aparecia com frequência à Isis. A mediunidade não é um assunto novo para a humanidade, mas creio que é relevante pontuar que ela não é tampouco um produto da doutrina espírita. Ela esteve presente em todas as religiões da Terra e em todos os períodos de sua história. E não se deve depreender igualmente que a mediunidade foi trazida ao planeta por estes seres exilados de outras constelações. Não seria correto fazer essa assunção, mas como a Terra era, e ainda é, um planeta atrasado em relação às regiões citadas, a mediunidade opera de forma mais orgânica e complexa. Quanto mais avançada for tal planeta (e eu não gosto destes termos, mas peço que o leitor me desculpe por usá-los: é para o melhor entendimento vosso), menos grosseira ela será, mais livre da influência da matéria será.

Isis era uma jovem de pele escura e olhos esverdeados, apresentando traços dos povos migratórios de quem descendia. Perante a visão que recebia, ela não entendia muito bem o que significava, mas em seu coração tudo fazia sentido. À princípio, correu para contar às senhoras sobre o que viu à beira do rio, mas ela sofreu com a descrença. E disto brotou o princípio da ferida que a atormentaria por longas e longas encarnações.

"Por que não credes no que digo, minha senhora? Sou tua serva leal e jamais te dei causa para mentiras".

Embora enérgica e cheia das vontades, Isis era tímida e guardava uma vontade de agradar, semente esta que trazia ainda do pretérito culposo e que mesmo hoje não se livrou desta infeliz chaga.

"Porque és o que és: uma serva. E os deuses não falam com gente como és", foi a resposta recebida.

Isis se enfureceu. Mas algo a impediu de que cometesse um crime. Não obstante, sofreu com as chibatadas, pois ela foi "ousada", no entendimento limitado de quem servia. Ora, ela pensou, se ninguém lhe dava crédito por falar com a divindade, como poderia confiar nesta habilidade? Tot tornou a chamá-la, mas Isis o ignorou. Contudo, no desprendimento da sua alma, ela pranteava e sofria com sua expiação.

"Mas, minha filha, viestes para servir e mostrar aos terrícolas que o conhecimento ilumina. Ide ao teu corpo e despertas. Deves prosseguir neste caminho."

Este foi o conselho que ela recebeu. Embora se revoltasse com o gênero daquela mui dura provação, tentou convencer agora as suas companheiras de trabalho de que Tot falava com ela. Encontrou um pouco de resistência, mas maior aceitação. E quando se achou acolhida, confiou seu dom. E por um tempo, conseguiu dar cabo a missão. Ninguém é realmente inteiramente endurecido no coração que não pudesse aprimorar.

Na verdade, se posso dizer, Isis veio, depois de Capela, de Mercúrio. Dali, bastaram três existências para que seus mentores concordassem que fosse o momento de ser transferida para a Terra. Contudo, deve se salientar que o progresso do espírito não raro é lento. E Isis progrediria muito mais no alvorecer dos povos helênicos, mas isso não posso dizer mais.

Isaeu, seu companheiro espiritual, de certa forma a aguardava. E quando soube que Isis era instrumento de Tot, aproximou-se dela. Não pretendo me prolongar, caros leitores, mas digo que o amor que nasceu destas almas endividadas cobraria logo mais um preço muito alto. Quando se é ainda preso à influência da matéria, o amor é, muitas das vezes, confundido com posse, sensualidade, mesclando sentimentos da carne aos da alma, sem com isso distinguir um do outro. E foi assim que Isaeu se apropriou da mediunidade de Isis.

"Não sei como nem por qual razão Tot falas contigo", dizia ele. "Afinal, és mulher e impura para tal contato divino."

De cabelos raspados, Isaeu com frequência usava uma mescla de cores em seus trajes. Sabado especificamente usava azul com linho dourado para reafirmar sua "realeza". O leitor familiarizado com determinadas literaturas espíritas poderá identificar em Isaeu o comportamento do soberbo "feiticeiro" do qual outros autores já dissertaram a respeito. 

Ainda travestido de preconceitos terrestres, Isaeu tentou desprezar Isis porque somente a ele e seus escolhidos era dado o conhecimento da letra. Aqui, observem como o espírito faz a sua época e molda o seu contexto. A que ponto a soberba humana distinguiu o homem da mulher. Mas prossigamos.

"Sou a escolhida dele tanto quanto a tua e pouco importa que te deites com outras para que percebas isto."

Isis era dona de uma língua afiadíssima, tanto quanto uma espada e até mais capaz de ferir do que a arma propriamente dita. Não por isso o mestre nos elucidaria milênios mais tarde: "aquele que ferir com a espada, por ela será ferido".

Quando Isis e Isaeu juntos embarcaram em uma jornada um tanto quanto questionável do conhecimento que fizeram mal uso, contribuindo, com isso, para o atraso milenar daquele povo sábio--afinal, a leitura e a escrita pertenciam à casta dos sacerdotes--, a consequência viria como a lei divina determina que para toda ação venha uma reação. 

Ainda naquela existência, Isaeu padeceu de desconhecida pestilência. Aparentemente, aos olhos da carne, ele sucedeu em tudo quanto não deveria: ascendeu enquanto sacerdote, manipulou o conhecimento espiritual e da literatura sagrada, impôs uma separação dentro do próprio povo e enriqueceu às custas do mesmo. Mas Osíris não permitiria que seu descanso fosse eterno: o trabalho deve ser o meio de redenção. Contudo, Isaeu achava-se isento deste. E sua escolha foi respeitada. Juntou-se aos outros espíritos, embrutecidos quanto ele.

A Isis, serva de quem a história jamais conhecerá, as chagas terrestres se iniciaram a partir da insegurança que ela e o próprio Isaeu colocaram em si. Na busca pelo companheiro com quem deveria progredir e espalhar o conhecimento ante ao povo, perdeu-se no caminho. Envaideceu-se. Não é preciso do crime literal para se endividar ainda mais nas leis de Deus.

Disto tudo fui observador. Não posso e nem ouso dizer que fui vítima, embora deles dois tenha nascido. Também segui no caminho das religiões ditas "mistérios", embora fosse Hórus quem tenha me chamado. Paralelamente a ascensão da Babilônia, as areias de Cairo foram testemunhas de um povo que desceu para pagar um pesado tributo para os crimes que deixaram para trás. E, em vestes novas, muitos persistem no erro, mas o progresso ainda há lá.

Antes das pirâmides, antes de imperadores e reis, mesmo quando o orgulho regia a uma vasta maioria, era entre os simples de coração, os que não tomavam partido entre disputas de ego, que aquelas "deidades" (que nada mais eram do que espíritos a serviço do Pai) os procuravam. Mas poucos eram os que não sucumbiam.

Isis, cujo caminho espiritual sigo observando desde tempos imemoráveis, progrediu, mas as chagas ainda existem, esperando pela cura. Segue agora servindo ao conhecimento como pode e de um coração mais limpo do que nestes tempos. Isaeu também melhorou um bocado, embora ainda trava dificuldades para se desvincular de pretérito culposo.

Aqui, caros leitores, a lição que fica é: se não nos propomos a nos conhecer melhor, estagnaremos. Se deixarmos as adversidades nos derrubarem, não persistiremos. Se olvidarmos que somos filhos de Deus e, portanto, passíveis de progredir, não obstante os nossos erros, que será de nós? Recordai, uma vez mais, que o conhecimento não é arma para violentar a opinião, a vivência de nosso irmão, não é prisão daquele de quem não compartilhamos a perspectiva.

Somos todos individuais, espiritos a caminho do progresso. Avante, avante! Não há uma só verdade, mas várias. "Conhecereis a Verdade e ela vos libertará!".

Agradeço antes a Deus por esta oportunidade. Que essa pequena e iniciante experiência possa servir de aprendizado. "Tenhais ouvidos para ouvir" como também olhos para ver. A todo instante, mudamos. Que Deus vos abençoe, meus irmãos e minhas irmãs."

-Espírito X.

sábado, 31 de dezembro de 2022

Ciclo de Poemas XV: À Luz de Cristo, pelo Espírito Édouard.

"Ao longo da História

Construí na Terra memória

Que, para minha alma,

Nada tem de glória

 

E vamos embora

Seguindo os passos daquele que o Criador

Nos enviou por amor

Mas quantos de nós não escolhemos a dor?

 

Não importa aonde estejas

Nas areias

Nas paredes, se tendes sede

Buscai aquele que te saciarás

 

Com a palavra do Senhor, não temerás

Se ao vale das sombras andarás

Confie no Pastor que não te faltarás

À luz te guiarás

 

À cada oportunidade

Buscai a verdade

E ela te libertará

Dos preconceitos da Terra te romperá

 

Estudes e esclareças

Para que no porvir não padeças

Das imperfeições que ocultam aluz

Do Senhor, dos corações.

 

É sempre de bom tom

Esforçar-te no meio que estás

Esquecem-se os homens do pouco que satisfaz

É, porém, nas pequeninas coisas que ao

Senhor apraz

 

Para defender a paz

É preciso serenar a guerra que ainda se faz

No interior de cada homem e mulher

Deve-se alimentar a fé

 

Por que almejar a grandeza

Quando é na pequeneza

Que o verdadeiro início

Se faz à luz de Cristo

 

É longe das disputas mundanas

Que a luz de Deus penetra nossas escamas

De personalidades, eleva-se a individualidade

Amemos, portanto, àquela Verdade

 

Não existe purismo

Isto é misticismo

Na confraternidade

Tantos povos cultuam em conformidade

À mesma divindade

 

Persistem no desvio

O que cultua com frio

E abafam com palavras o calor

Daquele que veio nos ensinar a nosso favor

 

A cada geração, surgem velhos fariseus

Clamando o exterior

Esquecem-se de limpar o interior

E jogam pedras como se não houvesse devedor

 

Ora, também eu errei

E ao Cristo crucifiquei

Quando meus irmãos

À morte condenei

 

Em tempos de disputa verbalizada

Embora fosse jovem, sobre minha cabeça

A coroa repousava.

A mim me diziam, “caro! Vedes

Como professam heresias!

 

Uma única verdade havia”

E diante de tal conflito, não me compadecia

É por isto que digo

Depois que o véu foi dos meus olhos removido

 

Mudam-se os tempos

Continuam as mesmas perseguições

Aplicam por palavras e leis temíveis sanções

E eu daqui me pergunto: por que

Por que?

 

É difícil de fato crer

Que aqueles que pretendem a liberdade defender

Ocupam-se mais ao próximo fazer tremer

Oh, Senhor! Outra vez mais escolhemos a dor

 

É preciso não conter o riso

Mas inspirar mais sorrisos

Saber acolher e jamais apedrejar

Aquele irmão que ainda não sabe amar

 

Se o ontem soubéssemos!

Verdade cegaria os extremos

Tormento arrastaria não ao arrependimento

Mas ao sofrimento

 

Para chegarmos ao monte das oliveiras

É preciso lidar com nossas torpeiras

É preciso persistir

E jamais desistir

 

Nosso Senhor não quer santidade

Mas nossa sinceridade

Na prática do bem

Sem olhar a quem

 

Podemos todos nos redimir

Com a graça de Deus estou aqui

Avante, avante

Olhais adiante com o coração contente

 

Ideias são passageiras

Não disse-nos o Senhor

“Céu e Terra passarão, mas a Palavra não passará?”

É sempre tempo de tentar melhorar

 

E evitar julgar

Pois a cruz que o outro carregar

Não é sempre possível a nós sobre os ombros levar

Cada qual segundo as obras que o Senhor veio delegar

 

Termino, mas não toco o sino

Em breve, volto outra vez

Ensinando como posso

Aprendendo como quero, sempre sincero

 

Isto não é adeus ou lamento

Apenas por ser útil me contento

De fazer a Palavra do Senhor chegar

E a todos vós ao aprimoramento encorajar

À vida terrestre, compete animar."

sábado, 24 de dezembro de 2022

Ciclos de Poemas XIV: Águas Paradas. Pelo Espírito Édouard

“Muitas eras passadas

Atravessei em incontáveis existências

Águas paradas

Que petrificaram minha vivência.

 

Em verdade, para ontem quis

O que a humanidade fê-me infeliz

Tudo é passageiro

Devemos nos ater ao que é verdadeiro

 

E o que é certeiro

Se não o Senhor

Que nos é pastor?

Que nos conduz com muito amor?

 

E no entanto a reforma íntima é difícil

Faz-nos crer que modificar-nos é impossível

E as querelas somente aumentam

 

Tão longe deste presente

De amado Deus fui ausente

Caminhei em círculos

Ceguei-me no meu próprio ridículo

 

Nas águas da ilusão

Me afundei

E lá por tanto tempo fiquei

Sequer a fé contemplei

 

Entretanto, mesmo o erro é relevante

Para a nossa caminhada constante

Sede, pois, perseverante

Elevai teu coração na vida santificante.

 

Há sempre dois lobos a alimentar

Qual deles vás optar?

Antes, porém, cumpre recordar

Saiba tuas feridas amar

 

Antes de curar

É preciso te conhecer melhor e aos conselhos acatar

Para evitar nas pedras dos outros tropeçar

É preciso também parar

Antes da jornada continuar

 

Quando nos desterros recentes

Tentei-me fazer decente

Em verdade fui descrente

E padeci sob sol poente

 

Fui doente

Nas horas finais

Curta vivência ao Senhor apraz

E quando o cansaço me tomou

Tarde demais vi o erro que se formou

 

E a tu sobre tua cabeça a coroa repousou

Aquela cuja terra o laço não se quebrou

É hora, agora

De olhar para a frente

Nas águas paradas

Não cabe fazer onda

É preciso tomar a ronda

No Senhor esperar

Antes de prosseguir nas águas do mar

 

Paciência, eis grande virtude

A desenvolver em plenitude

Orai e vigiai

Para que a falta dela não te recai

 

E amai e perdoai

Setenta vezes sete vezes

Ainda que aos outros nada vejam

Deus lá de cima e os guias percebam

Que teus esforços logo mais

Em bom fruto resultarão.”

Ciclos de Poemas XIII: A traição do Senhor. Pelo Espírito Édouard

"No castelo de Bamburgh

Histórias ainda há

De que certo nobre prossegue em vagar

Ainda a assombrar

Quem seu caminho cruzar.

 

Em meus dias o conheci

Infortúnio meu, de sua traição padeci

Um dia o confiei

Como irmão o amei

Incontáveis vezes junto a ele jantei.

 

Outrora inimigos

O perdoei

Do norte ao sul, diziam-me

‘Senhor, tendes cautela; do lado errado ainda permanece nela’

E assim errei, assim errei.

 

Em segundas chances acreditei

Pus no seio da família

Na paz sonhei

Quão pouco concretizei

 

Em dia chuvoso, em seus olhos mirei

Crendo-no fiel, certas questões a ele confidenciei.

Pelo derramamento de sangue, lamentei.

Pelo quê? Pela coroa que aceitei.

 

E ele disse, e ele disse

‘Senhor, nada há a rememorar. O passado lá deve ficar.

Aqui entre nós, nenhuma vingança

Deve a espada bradar.’

Parecia-me triste, quando por poeta se passou.

 

E nunca casou

Contra mim conspirou

Contra minha carne atentou

Vingativo espírito se esquivou.

 

Não por muito mais tempo

Orgulhosos nós dois permanecemos

Reflexos do que vivemos

Era eu diferente?

Ah, como quisera eu ter sido a Deus

Mais temente

 

No dissabor da anarquia

Escondi minha tristeza na armadura

Fiz minha cama e nela deitei

Em vícios, mergulhei

Ao redor da luxúria, pranteei.

 

Se fui bom ou não,

Quem me julgará

É aquele que jamais falhará

Em verdade, fui árbitro de tantos

E de mim, esqueci-me do que era

Meu ofício ser santo.

 

Quanto a ele

Vingador, oh tolo amigo!

Te perseveras na dor?

Ouço teu pranto, mas não passo ainda ser teu salvador!

 

O sal das tuas lágrimas

Fizeste-te crer

Que ao Senhor podemos vencer

Não fui justo com vosmecê

Mas e agora, deves-te perder?

 

O caminho só é ilusão

Para os que se desvirtuam, irmão

Ide em paz

Se assim te apraz

Para que o tormento não te atrase mais

 

Erramos todos, oh Senhor

Coroei-me pecador

Antes pobre e dos vícios desertor

Do que rico, perdido no falso amor

 

A roda da Fortuna a todos gira

Se ontem estive em cima

Procuro agora tua estima

A fim de me reerguer

Depois de tanto padecer.” 

Ciclos de Poemas XII: Sem Coroa, Destronado. Pelo Espírito Édouard

 "No sal do mar

Vejo homens se afogar

As lágrimas a derramar

Desterro às almas tomar

 

Como navegantes

Enfrentam dentro de si rompantes

Que os fazem cambaleantes

Da vida aos desafios diante.

 

Já lestes Dante

Sabeis que Virgílio espera adiante

Sempre avante

Mostrando o inferno inconstante.

 

Sofrem os homens

Como ontem

Ignoram o remédio

Que Deus oferece por intermédio

De seres de luz.

 

À nós desceu Jesus

Animo nos deu para carregarmos a cruz

A escolher o amor

Para temperar a dor

 

Na odisseia da vida

Venho a todos recordar

Que para este lado de cá

Terras, títulos e coroas não valem nada.

Levantou-se do túmulo

Um desses que de cristão só tinha o nome.

Aquele que de epíteto

Admiração causou

Aos que na Terra deixou.

 

De que adianta a terra reclamar

E aos outros fazer sangrar

Perdido na cobiça e na avareza

Somente em seu fim conheceu a tristeza.

 

Portou a Espada e fez a História registrar

Qual não foi a surpresa ao sozinha se encontrar

Despojado de seu lar

Da família que veio a amar.

 

No mundo onde não há

Diferenças a separar

Pôs pobre homem a prantear

Se ontem gostava de mandar

Hoje é obrigado a se humilhar.

 

Nenhuma juventude há de durar

A todos o tempo vai passar

Nenhuma riqueza vai ao túmulo levar

Que melhor pompa

Do que pelos familiares ser amparado

Do que por Deus ser amado?

 

Oh, homens! Não fazeis como eu

Não perdeis tempo com inúteis querelas

Tendes fé, instrui-te, não te demores com outra janela

Não esperas, avante, destronado, por Deus amado!

Contos de Nanã, vol.1--Nas Areias Do Cairo, pelo Espírito X.

Nota da guia de Nanã: "Caríssimos amigos, irmãs e irmãos na Terra. Em nossa longa caminhada espiritual, habitamos inúmeras moradas do P...